Na era da proibição das queimaduras da fauna, estavam os bichos e os animais tradicionais iluminados pela inovação do bolo das convivências. Criavam a paixão de ler livros de todo o universo para decifrar o mundo e entender a forma de abrir o fósforo das conflagrações da terra. Enfeitaram a cidade com as longínquas árvores da independência.
Com a chuva, os bichos cresciam e rasgavam a boca. Mesmo assim, o fogo esquentou-se na floresta. Enquanto os bichinhos, com a sua urina, apagavam o fogo, os animais selvagens sopravam, para com ele confeccionar os seus alimentos.
– Porquê as fachadas e não as concórdias? – Questionou o Camaleão.
Antes de responder, o Jacaré-de-parede questionou a dúvida, e em seguida, abertamente, respondeu:
– Arrastas a santidade à pátria. Minha resposta pode não ser satisfatória.
Enquanto o Camaleão e o Jacaré-de-parede afiavam a retórica na pedra, em forma de sardão, o Pirilampo limitava-se a acenar com a cabeça.
– Sim, sim, sim meus camaradas. Suplico o rosto da chuva para apagar o fogo, e no final o sorriso florir!
– Aqui não há camaradas, pá! Na floresta, só existem bichos. – Replicou o Camaleão.
A menina Benguela encontrava-se nua e devorada pelas fornicações das pólvoras. Seu namorado Pirilampo, para não sofrer a humilhação, teve que namorar a Dona Luanda. Linda Luanda! Era a única prostituta dos deuses. Até os estrangeiros queriam engravidá-la.
Tomado o caminho, o seu companheiro de viagem (o Tapete-Asfáltico), disse-lhe que os camponeses da mesma planície semeavam minas. As árvores já se tornavam ferozes, devido às curvas, descidas e às feridas timbradas no seu útero.
Sem hipérbole, a Senhora Canjala era a chefe do Estado-Maior, sem piedade. Para que o Pirilampo beijasse os pés da Dona Luanda, teve que nadar todo o mar do Sul, até ao Senhor Porto-Amboim.
– Os mergulhos me fatigaram. Dei tantas goladas que salgaram-me as tripas, e até o papéu na barriga se estragou. Mazé a dioba que vai me bondar!
– Ó seu bicho! Aqui não há padres, nem vincula a Bíblia, pá! Levanta e vai-te embora.
Conquistou o asfalto despenteado que conhecia a casa da Dona Luanda e ambos partiram. O jacto em que eles se plantaram era um camaleão a andar. Seguia o seu curso num espaço temporal de 1,5 a 1,0 km por hora.
Era a força maior, e ele queria um dia contar essa contenda a outrem. Separou a sua mão da dela. Em seguida, leu as lágrimas pretas nos olhos dela, mas não podia recuar. O coração já estava no quintal da Dona Luanda. O Asfalto ainda mostrou-lhe o Museu da Escravatura. Já estava fora da forja e respirava levemente.
Poucos quilómetros depois, o Tapete-Asfáltico também se transformara em pessoa de verdade: bem vestida, de um fato engraxado e duas barras brancas em cada faixa. Foi o dia em que ele conheceu a Dona Luanda. Diziam que ainda era miúda, linda, média e negra. Apesar de ter mais de XVIII séculos, tinha um passado de ferro, e precisava da veste interior para caminhar.
O Pirilampo inalou o socialismo e, em sinal de boa educação, retribuiu:
– Estou na Luanda, na Nguimbi!
– Na Luanda! Exclamou a Árvore, barbuda de inteligência.
Antes de o Pirilampo ter contado alguns passos leves, a Árvore falou baixinho:
– Esse wi é sulano. Fala mbora o rascunho do português.
O Pirilampo arriscou-se e chegou. Encontrou os inquilinos que viviam num comboio pronto para uma boa sobrevivência. Apontaram-lhe um carro com as pernas separadas do tronco: um antebraço perdido, enrugado de feridas e velho, por lhe terem batido duas estações chuvosas. Então, o Carro disse-lhe que sua cama era o tecto de casa, para fazer peso e proteger as chapas da ventania.
O Pirilampo, por sua vez, arrogou-lhe e aprontou-o bem com pregos e martelo. No dia seguinte, visitou o mercado do Roque Santeiro com o seu companheiro Carro, cujas traseiras, em andamento, agradeciam pulando os muros com o pneu bem calibrado, enquanto o escarro do Pirilampo estava sendo pintado a vermelho pelos seus pulmões.
– Agora todos nós estamos numa só palma, esticando a língua materna para o português.
Foi assim que começou o uniforme ódio…